Norte Investe 62 milhões nas Indústrias Criativas

5-4-2011

O discurso político de incentivo ao desenvolvimento, na Região Norte, de uma fileira económica na área das chamadas indústrias criativas vai ganhar corpo nos próximos anos, se avançarem todos os projectos para os quais há fundos comunitários garantidos.

Só no Programa Operacional Regional, o ON.2, estão já comprometidos apoios de quase 46,2 milhões de euros, para um investimento proposto por várias entidades que atinge praticamente 62 milhões.

Quase três quartos deste valor serão aplicados na construção de equipamentos, alguns dos quais destinados a apoiar a actividade de novas empresas.

Arte multimédia, design, moda. Velhas fábricas transformadas em pólos de acolhimento de novos negócios, universidades e escolas apostadas em contribuir para o desenvolvimento desta fileira, ou cluster, a que chamam Indústrias Criativas.

É muito por aqui que passam os mais importantes projectos apoiados pelo ON.2 neste domínio, aos quais se podem acrescentar 18 milhões de euros de fundos para o desenvolvimento regional (Feder) disponíveis para Guimarães Capital da Cultura de 2012.

Feitas novas contas, no total até há mais de 80 milhões prometidos para este novo sector.

Dos nove projectos de construção de equipamentos, o maior investimento é o do Centro de Criatividade Digital (CCD) do Centro Regional do Porto da Universidade Católica. Ao todo são quase 11,3 milhões de euros, com apoios Feder de 7,9 milhões, que implicam a construção de um novo edifício projectado por Siza Vieira e a requalificação do actual edifício da Escola das Artes da Católica. No projecto está contemplada a criação, e o equipamento tecnológico, de uma estrutura designada Praça Multimédia. Conjugada com as restantes vertentes do CCD, este espaço reforçará a apostada Escola de Artes da Católica nas artes emergentes, criando, espera a instituição, massa crítica e favorecendo o empreendedorismo nesta área.

A sul do Porto, em Oliveira de Azeméis e em Santa Maria da Feira, vão surgir dois dos projectos sobre os quais mais se tem falado. No primeiro caso, trata-se da reconversão de uma parte das instalações da antiga fábrica da Oliva no Oliva Creative Factory - que tem, entre outras, uma valência de incubação de "negócios criativos". Está aqui em causa um investimento de 9,44 milhões de euros, apoiado com fundos no valor de 7,47 milhões. No segundo caso, a Feira vai simplesmente explorar um filão que a tem já tornado famosa em momentos como o Festival Imaginarius, investindo 8,5 milhões de euros (apoios de 6,8 milhões) no Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua.

A Fábrica de Design e da Inovação de Paredes, com os seus 6,45 milhões de euros de investimento (5,16 milhões do Feder), e o centro iMod - Inovação, Moda e Design, que a Câmara de Santo Tirso quer instalar numa parte da antiga Fábrica do Telles (4,12 milhões e apoios de 3,3 milhões do ON.2), são os outros dois projectos com maior envergadura (ver caixa nesta página).

Mas o leque de projectos em curso na área das indústrias criativas abrange também iniciativas da Agência Inova no Porto (o CACCAU - Centro de Apoio à Cultura e Criatividade em Ambiente Urbano), o Palácio das Artes - Fábrica de Talentos da Fundação da Juventude, o Árvore XXI - um espaço de convergência criativa, da Cooperativa Árvore, ou a Incubadora de Indústrias da Bienal de Cerveira.
Juntos, estes projectos absorvem 4,58 milhões de euros de apoios, para um investimento global estimado de 6,54 milhões.

iMod - Inovação, Moda Design Santo Tirso

O projecto visa desenvolver uma incubadora de negócios criativos, orientada para a cadeia de valor da moda, no quarteirão cultural da Fábrica do Telles, uma antiga unidade têxtil localizada junto ao rio Ave, em Santo Tirso. Serão financiados a recuperação do edifício, a aquisição de equipamento e mobiliário, o fornecimento de serviços de comunicação e publicidade, trabalhos especializados e equipa técnica. A câmara local investe 4.268.508 de euros e tem apoios de 3.296.808.

Oliva Creative Factory São João da Madeira

A Câmara de São João da Madeira pretende instalar um pólo de indústrias criativas na antiga Fábrica Oliva. O projecto inclui três valências: Rede de Recursos, Competências e de Excelência nas Indústrias Criativas; Incubadora e Espaço de Negócios; e Espaços Interdisciplinares. Além da aquisição do espaço e execução da obra, o projecto contempla acções de consultoria, programa de empreendedorismo e acções de comunicação. O custo é de 9.443.796 euros, com verbas do ON.2 no valor de 7.466.495 euros.

Centro de Criatividade Digital Universidade Católica-Porto Porto

A Católica do Porto está a desenvolver o projecto do Centro de Criatividade Digital em três vectores fundamentais: Centro de Competência e Excelência Criativa; Incubadora Aquário de Som e Imagem; Espaço Interdisciplinar de Encontro e Convergência Criativa. Inclui a construção de um novo edifício (projecto de Siza Vieira), a requalificação da Escola das Artes e o equipamento destas infra-estruturas. O investimento é de 11.875.393 euros, com 7.887.465 euros do ON.2.

Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua Santa Maria da Feira

O projecto apresenta-se como uma aposta nas áreas de criação e apoio a artistas, no acolhimento de negócios criativos, na investigação e produção de conhecimento e na implementação de um serviço educativo. Além da construção e equipamento do edifício, o projecto engloba a aquisição de trabalhos especializados que permitirão conferir maior qualidade à actividade desenvolvida pelo Centro. Investimento: 8.483.512 euros; apoio 0N.2:6.786.809 euros.

Fábrica do Design e da Inovação de Paredes Paredes

A Câmara de Paredes quer construir em Lordelo um edifício de grande valor arquitectónico para instalar espaços de dinamização cultural e de produção e partilha de conhecimento. A Fábrica de Design incluirá equipamento para prototipagem rápida de novos produtos para servir os agentes económicos locais e umfablab, que permite construir, com meios digitais, produtos e protótipos. O investimento é de 6.446.807 euros, com apoio europeu de 5.157.453 euros.
O gestor do Programa Operacional da Região Norte (ON.2), Mário Rui Silva, admite que um ou outro projecto aprovado possa sofrer reajustamentos na escala ou no tempo, devido a eventuais dificuldades financeiras de algum dos promotores. No entanto, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) e a equipa do ON.2 acreditam que, nas próximas semanas, ficará disponibilizada a primeira tranche do empréstimo de 1500 milhões de euros negociado por Portugal com o Banco Europeu de Investimento (BEI), que permitirá aos promotores garantir, a juros baixos, o financiamento de grande parte (dois terços, no limite) da componente nacional de cada projecto.

O que ajudará a ultrapassar os contrangimentos que autarquias e outros agentes enfrentam no recurso ao crédito bancário. Para além da componente material, o ON.2 destinou parte dos apoios a um conjunto de eventos organizados por instituições como Casa da Música, Fundação de Serralves, Teatro Nacional de São João, Museu do Douro, Fundação Bienal de Cerveira, Câmara de Guimarães e alguns parceiros desta cidade. O rol de eventos inclui ainda realizações da Cooperativa Curtas Metragens de Vila do Conde, Câmara de Paredes, Associação Nacional de Jovens Empresários, Câmara do Porto e Turismo do Porto e Norte de Portugal. São 15,7 milhões de euros de investimento, suportados com 11 milhões do Programa Operacional Regional.

A CCDRN espera que estes eventos ajudem a criar um ambiente de criatividade e que dos restantes projectos venham a emergir novas actividades geradoras de valor económico. A expectativa, em última instância, é que a Região Norte consiga fixar e atrair talentos, recompondo a base da sua economia e acrescentando valor aos sectores tradicionais. A afectação de fundos para este sector emergente e a sua distribuição, destaca Mário Rui Silva, mostram quão importante foi o processo de debate público lançado há uns anos pela CCDRN e por Serralves que colocou as indústrias criativas na agenda regional. "Houve um empurrão público", assume este técnico da comissão, satisfeito, para já, com a reacção dos vários agentes, públicos e privados, a trabalhar no terreno.

Dário Viegas
*cortesia CultDigest

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